terça-feira, 12 de março de 2013


As vezes tenho vontade de me repartir
sinto que minha tristeza é má
é como metamorfose aguda
é um diluvio ocidental

São minhas feridas
que queimam minha alma sem dó 
ela resseca meu coração moribundo 
me transforma em outro alguém

Me socorra 
alguém 
sinto que a magoa já toma conta de mim 
sinto ela devorar-me 

Estou totalmente perdido 
ninguém pra me socorrer
ninguém pra me dar carinho
que tristeza o meu lamento 
o lamento na vida

Morto estou
nesse mundo submerso 
e por isso
sempre me calo


Renan Lacerda.

terça-feira, 5 de março de 2013

Duas musas


Entre decotes e blusas
Jogados no camarim,
Tenho agora duas musas
Que dizem gostar de mim...
Uma qual linda safira
Diz que há muito me admira,
Desde os meus tempos de atleta,
Já a outra, culta e meiga
Se derrete qual manteiga
Com meus vultos de poeta...

Uma lê versos de Augusto
Quando vem falar comigo
E a outra me mostra o busto
Como forma de castigo.
Uma me seduz à cama
Sem beber da minha fama
Nem por brilho no meu olho,
Mas a outra é muito linda
E eu não decidi ainda
Qual das duas eu escolho.

Uma tem beleza interna
Muito embora seja pouca,
Porém quando cruza a perna
Me deixa de água na boca...
A outra é politizada
Resolvida e embelezada
Pelos próprios ideais
E neste clima bem tenso,
Gente pensa que eu não penso,
Mas eu não me importo mais...

Duas mulheres singelas
Que não me deixam sozinho,
Duas pecadoras belas,
Pedaços de mau caminho.
Duas ventanias brabas
Sempre a sacudir as abas
Deste meu peito em açoite,
Duas pétalas de lírio,
Duas doses de martírio
Enchendo a taça noite...
  
Uma parece com uma
Dose letal de veneno
E a outra é como uma bruma
Numa manhã de sereno...
Eu que fui feito palhaço
Só de perverso não faço
Com que a coisa fique séria,
Sano as vontades que sinto
Como um animal faminto
Alimentando a matéria.

As duas pensam, coitadas,
Que eu por elas tenho gosto,
Mas estão muito enganadas,
Porque a mim já foi imposto,
Que nem mesmo Carla Perez,
A mais bela das mulheres,
Merece meu sentimento,
Pois achar mulher sincera
É como triste quimera,
Qual folha seca no vento...

Eu nem sei se as duas buscam
Uma alma verdadeira
Ou se sem saber ofuscam
O meu sonho na terceira,
A terceira é flecha certa,
É como uma chaga aberta
Num mendigo pelas ruas,
E eu vou como um homem ruim
Enganando mais a mim
Por enganar todas duas...

Porém como essa terceira
Não sabe nem que eu existo
Eu vou sofrendo à maneira
De Deus na Paixão de Cristo,
Vou procurar uma quarta
Mesmo com minh’alma farta
De um amor que me recusa,
Tentando driblar a sorte
Antes que a própria morte
Seja a minha quinta musa.


Manoel Cavalcante

domingo, 3 de março de 2013

Eu Não Quero Mais Fugir

Estou presa,
Sem algemas
Sem grades.
Encarcerada por um toque, 
Condenada por esse vulcão!

Por um segundo quero fugir
Mas o teu braço me aperta
O seu toque me queima
Então desisto de ir.

Me diz baixinho que me quer
Condena-me ao paraíso
Me joga, como se fosse teu brinquedo.
Confesso, tenho medo.

Mas o teu braço me aperta...
E eu não quero mais fugir.


Fernanda Fernandes