sábado, 18 de agosto de 2012

Inatingível



O que sou eu, gritei um dia para o infinito 
E o meu grito subiu, subiu sempre 
Até se diluir na distância. 
Um pássaro no alto planou vôo 
E mergulhou no espaço. 
Eu segui porque tinha que seguir 
Com as mãos na boca, em concha 
Gritando para o infinito a minha dúvida. 

Mas a noite espiava a minha dúvida 
E eu me deitei à beira do caminho 
Vendo o vulto dos outros que passavam 
Na esperança da aurora. 
Eu continuo à beira do caminho 
Vendo a luz do infinito 
Que responde ao peregrino a imensa dúvida. 

Eu estou moribundo à beira do caminho. 
O dia já passou milhões de vezes 
E se aproxima a noite do desfecho. 
Morrerei gritando a minha ânsia 
Clamando a crueldade do infinito 
E os pássaros cantarão quando o dia chegar 
E eu já hei de estar morto à beira do caminho.


Vinicius de Moraes


Um comentário:

  1. Poema mórbido, melancólico como a sua poesia realmente era ao contrário do que pensa o inconciente coleivo ao ouvir a sua bossa nova...
    gritemos todos para não ficarmos no meio do caminho sendo engolidos pela noite final!!!

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